Janeiro de 2006; Palmeiras trintão sobra no Paulista.
Entre os quatro grandes de São Paulo, é o Clube com
mais jogadores acima de 30 anos que lidera o estadual:
cinco vitórias em cinco jogos. Dos até agora titulares,
estão Ricardinho, 30; Paulo Baier, 31; Marcos e Daniel,
32; Edmundo e Gamarra, 34. O goleiro reserva Sérgio,
com 35; Juninho Paulista (que se recupera de contusão)
e Gioino, ambos com 32, completam o time dos ‘experientes’.
Contra o Deportivo Táchira (VEN), pela Libertadores,
foi feita a lição de casa. Apesar dos 2x0 no placar,
Leão não pareceu satisfeito com o que viu. Depois
de ter dito na reapresentação, ainda em dezembro,
que iria trabalhar com “ponta de estoque”, negando
haver craques na equipe, o treinador voltou à carga
na coletiva pós-jogo: "não dá para exigir 10 de um
time que só pode dar nota 5". Os jogadores evitaram
polêmica e consideraram a cobrança “normal”.
Aos seis reforços (Paulo Baier, Amaral, Márcio Careca,
Enílton, Ricardinho e Douglas) soma-se outro zagueiro.
Valdomiro, 27, chega do Santo André para um período
de testes de quatro meses. Para fechar o ciclo, avaliam
os diretores, só falta atender a um pedido de Leão:
o “matador de peso”. Fora de campo, mas também indicado
pelo técnico, a novidade é o assessor de imprensa
José Izaías para assumir o lugar de Primo Ribeiro.
XVIII – A Obsessão
Fevereiro de 2006; título é palavra de ordem. A necessidade
de exibir a faixa de campeão, ainda este ano, é unanimidade
entre diretoria, comissão técnica e elenco. A conquista
da extinta Copa dos Campeões, última taça relevante,
completará seis anos em julho. Os investimentos feitos
em 2005, mais de R$ 13 milhões (somados às contratações,
gastos com salários e premiações), precisam render
resultados.
Aliados próximos a Mustafá questionam, além do custo/beneficio
da gestão atual, o poder concedido ao treinador. Creem
que ele reverteu a demissão do técnico dos juniores,
Zé Mário. Crispim foi destituído e, sem razão aparente,
readmitido em seguida. A contratação do goleiro Alexandre
(Comercial), agenciado por Paulo Francez, amigo de
Leão, também é contestada. A negociação foi desfeita
depois que o time do interior reclamou à FPF o ‘roubo’
do atleta.
Farpas são trocadas entre cartolas ligados a Contursi
e Palaia, mas o ex-presidente e Della Monica reiteram
que permanecem unidos. A falta de vitórias (derrota
para o São Paulo seguida por três empates: dois no
estadual, um na Libertadores) conturba o ambiente.
Pós-clássico, Marcos e Edmundo criticam os colegas;
em Campinas, Leão troca empurrões e cotoveladas com
repórteres; Marcinho e Enílton discutem e trocam cabeçadas
no triunfo contra o Noroeste.
"Sempre disse que
montaríamos um time para ser campeão em 2006. E sinto
que seremos."
De PALAIA, diretor
de Futebol do Palmeiras
XIX
– O Começo do Fim
Março de 2006; menos um. O Palmeiras despede-se do
estadual, contra o Paulista, há duas rodadas do fim.
O Clube, que já entrou no Jaime Cintra sem a maioria
dos titulares, perdeu por 3x0, caiu para a quarta
colocação e deu adeus às chances de título. Diretoria
e treinador avaliavam que a taça, no início da temporada,
diminuiria a pressão por resultados e facilitaria
as demais conquistas. O elenco frágil, carente em
algumas posições, pesou na ‘eliminação’.
Entre contusões e suspensões, o time chegou a Jundiaí
com seis desfalques, além das ausências de Marcinho,
Edmundo e Alceu, poupados para a Libertadores. A preparação
física e o departamento médico têm sido questionados.
São muitos os jogadores com lesões musculares e o
tempo de recuperação é longo. Leão saiu em defesa
do preparador físico Fernando e poupou o sobrinho,
mas o Dr. Altamiro Leite foi remanejado para cuidar
da equipe B.
A torcida, insatisfeita desde a goleada sofrida em
casa, 1x4 América, pede a demissão do gerente Ilton
José da Costa e o afastamento de Salvador Hugo Palaia.
Pela cúpula próxima a Della Monica, parte da situação
(ligada a Mustafá Contursi) já é considerada oposição.
Pela ala do ex-mandatário, parte da oposição (Luiz
Gonzaga Belluzzo entre os líderes) já é considerada
situação. Oficialmente, todos negam.
XX – O Velho Problema
Abril de 2006; primeira quinzena. O remanejamento
da diretoria, iniciado há duas semanas por Della Monica,
não previa mudanças no Futebol, mas o título paulista
que não veio incluiu as cabeças do departamento a
prêmio. Descontentes com a autonomia dada a Palaia,
transferida a Leão, a grita é geral. Opositores e
situacionistas miram o atual diretor e recomendam
substitutos. Roberto Frizzo, cartola com trânsito
razoável entre as alas, é um dos nomes sugeridos.
Lentidão e dificuldade na contratação de jogadores
também motivam críticas. Os casos do volante Richarlyson,
do atacante Lima e do meia Rodrigo Fabri são lembrados.
A diretoria, que entrou na disputa pelos três, agora
os vê treinando no CT vizinho. Juninho Paulista, que
voltou ao departamento médico dois jogos após estrear
em 2006, reclama falta de estrutura e pede para continuar
o programa de recuperação fora do Clube, com o fisioterapeuta
Nivaldo Baldo.
Em casa, entre vaias da torcida, derrotado por 2x0
para o Cerro Porteño, o Palmeiras avança às oitavas
de final da Libertadores. Além do placar adverso,
a batalha campal travada na volta do intervalo marcou
a partida. A confusão, que teve origem no fim do primeiro
tempo com um desentendimento entre Washington e Baéz,
transformou-se em briga generalizada no início da
segunda etapa, depois das expulsões do paraguaio e
do zagueiro Douglas.
"Eu não esperava
que fosse tão penoso a falta de título como é no Palmeiras."
De LEÃO, técnico do
Palmeiras
XXI
– A Guilhotina
Abril de 2006; mais do mesmo. Aumenta a tensão entre
torcida e diretoria. Palaia, já irritado com a negociação
emperrada de Rodrigo Tiuí [uma diferença entre os
valores calculados pelo Clube e pelo procurador do
atacante atrapalha a contratação], pensa em transferir
os jogos da capital para o interior. Para o diretor,
vaias e xingamentos têm prejudicado a equipe: “Os
jogadores estão pressionados. Já que não se dá valor
jogando aqui, vamos para outro lugar".
Na estréia no Brasileiro, 2x3 Ponte Preta, a maior
organizada alviverde comanda o enterro simbólico do
time. O lateral Lúcio e o volante Alceu não aguentam
a pressão e pedem liberação contratual. O departamento
médico sofre outra baixa com a saída do coordenador
Aldo Guida. Ele pediu demissão um mês depois que o
fisiologista Ivan Piçarro foi ‘rebaixado’ para o amador,
por atribuir ao programa de preparação física responsabilidade
pelas lesões.
A segunda derrota no Nacional, Figueirense 6x1, agrava
a crise e sela o fim da era Leão. O técnico, que voltara
em 2005, 16 anos após a primeira experiência [já dirigira
o Palmeiras em 1989], é demitido dois dias antes do
clássico pelas oitavas de final da Libertadores. Diante
das circunstâncias, o empate por 1x1 contra o São
Paulo é considerado bom resultado. Para o vice-presidente
José Cyrillo Jr., "o time jogou mais leve” sob o comando
do interino Marcelo Vilar.
XXII – O Paradoxo
Maio de 2006; déjà vu. Em jogo marcado por erros de
arbitragem, o palmeirense vê o time ser eliminado
pelo São Paulo nas oitavas de final da Libertadores.
Protagonista, o juiz Wilson Souza de Mendonça não
marcou um pênalti existente (sofrido por Washington),
mas apitou um decisivo (em Júnior) inexistente. Antes,
desviara a bola tocada entre palmeirenses, invertera
a posse e dera inicio ao contra-ataque que resultou
na penalidade máxima, fechando o placar por 2x1.
Sob comando interino, entre o continental e o nacional,
dois empates e três derrotas. Adenor Bachi assume
o Palmeiras lanterna do Brasileiro: em cinco jogos,
um ponto somado. A sequência marca a pior largada
de um grande paulista na competição, desde 1971, quando
batizada pelo nome atual. Tite foi contratado depois
que as duas primeiras opções cogitadas, Geninho e
Antonio Lopes, fecharam com outros clubes.
Os muitos críticos da situação, entre diretores aliados
e conselheiros oposicionistas, questionam a queda
nos resultados em contrapartida ao aumento de investimentos.
Em 15 meses, foram gastos cerca de R$ 74 milhões entre
contratações, salários, manutenção e reforma do CT,
além das viagens para concentração e refúgio. Paradoxalmente,
o time B apresenta aproveitamento superior ao Principal.
Em 2005, alcançou 52% contra 50%. Neste ano, 65% contra
54%.
"É o pior momento
do clube desde que estou aqui."
De CORREA, volante
do Palmeiras contratado em 2003
XXIII – A Salvação
Junho de 2006; ave, Copa! Uma vitória na estréia (2x1
para o Santa Cruz, vice-lanterna) seguida por quatro
derrotas (São Paulo, Grêmio, Flamengo e Atlético-PR).
Este é o saldo de Tite, antes da paralisação do Brasileiro
em função da Copa do Mundo. Para o treinador, a tarefa
de evitar o descenso seria "muito mais difícil"
sem a interrupção. O Palmeiras fecha a décima rodada
do Brasileiro em penúltimo lugar, com quatro pontos.
A pífia campanha traz consequências. De Congonhas,
na volta do Rio, o elenco foi escoltado pela Polícia
Militar até o Centro de Treinamento. Dias antes, o
vidro da guarita do CT fora quebrado, supostamente,
por torcedores palmeirenses. Edmundo, que reclamara
da substituição contra o Flamengo, foi cortado por
indisciplina e não viajou com a delegação para Curitiba.
Os atacantes Washington e Muñoz e os meias Cristian
e Ricardinho foram afastados.
Até voltar a campo, em 13 de julho, os esforços estarão
concentrados nos treinos e na recuperação dos atletas.
O fisiologista Paulo Zogaib, contratado em maio, assustou-se
ao avaliar a forma física do elenco e observou que
o desempenho era de "fim de temporada".
O preparador Fábio Mahseredjian, o auxiliar Cléber
Xavier e o treinador de goleiros Jorge Luís, que chegaram
com Tite, terão muito trabalho pela frente.
XXIV – A Reação
Julho de 2006; recuperação pós-Copa. Após sequência
de quatro vitórias, o Palmeiras reconquista a torcida
e a autoconfiança. Entre os triunfos no Brasileiro,
os primeiros em clássicos (Vasco e Corinthians), o
primeiro como visitante (Goiás) e o primeiro com a
casa cheia (23 mil pessoas contra o Paraná). O time
sai da zona de degola, soma 16 pontos, e alcança a
14ª colocação.
Ao atacante Roger, 21, há dois meses negociado por
empréstimo com o São Paulo, em troca do lateral Lúcio,
somam-se cinco reforços. Os meias Rosembrick (Santa
Cruz), 27; Marcelo Costa [Nacional (POR)], 27 e Valdivia
[Colo Colo (CHI)], 22; o zagueiro Dininho [Sanfrecce
Hiroshima (JAP)], 31; e o ala-esquerdo Chiquinho (Internacional),
23. Dos que atuavam no Brasil, Roger e Rosembrick
estréiam. Os que vieram do exterior só poderão jogar
em agosto.
Marcinho Guerreiro reapresenta-se pós-transferência
européia frustrada. O volante havia saído logo depois
da eliminação na Libertadores, chegou a fazer exames
médicos no Olympique de Marselha, mas um problema
entre intermediários e o clube francês cancelou a
negociação. Afastado há quatro meses por uma lesão
na coxa, Marcos volta, joga duas partidas, e sofre
nova contusão que deve afastá-lo por 30 dias. Como
Sérgio também está no departamento médico, o jovem
Diego Cavalieri, 22, revelado nas bases, assumiu o
gol.
"O que se vê é harmonia
e união. Todos estão felizes, ninguém chega atrasado,
todo mundo treina sério, direitinho."
De EDMUNDO, atacante
do Palmeiras sobre a recuperação do time
XXV
– O Invicto
Agosto de 2006; estilo gaúcho. Metódico, o treinador
invicto há 11 partidas leva o Palmeiras à 11ª posição,
27 pontos somados, e agrada cartola. "O trabalho do
Tite está me surpreendendo. Não esperava algo tão
bom assim", elogiou Palaia. A satisfação estende-se
à preparação física e à recuperação dos jogadores.
Agora vazio, o departamento médico liberou os pacientes
restantes. Marcos e Sérgio, embora não tenham condição
de jogo, já treinam com o elenco.
A cúpula decide acionar Ilsinho. Nas bases desde 98,
o lateral recém-contratado pelo São Paulo não teria
dado ao Palmeiras prioridade de renovação, conforme
previa o contrato. Entre alguns dirigentes, porém,
circula versão diferente. Dizem que pediam a Leão
que resgatasse o jogador do banco, temendo o fim do
vínculo que se aproximava, e ouviam “deixa ir embora,
não faz diferença”. E que Palaia, influenciado pelo
ex-técnico, não teria se esforçado para mantê-lo.
O ala que recebia R$ 780 mensais, antes de sair, também
pedira reconhecimento: "Meu contrato vai até 21 de
junho. Gostaria de ser bem valorizado, até porque
agora estou jogando". Francis, outro atleta das categorias
inferiores alçado ao profissional, observa que há
falhas na forma de transição das equipes amadoras
à principal. O volante observou que falta um “Milton
Cruz” (auxiliar-técnico e observador vizinho) no Palestra.
XXVI – O Extracampo
Setembro de 2006; política nas alamedas. Discussões
públicas entre partidários do ex e do atual presidente
ocorrem há meses, mas uma carta protocolada na secretaria
do Clube, em agosto, oficializou o racha. O documento,
assinado por Mustafá Contursi e pelos presidentes
dos Conselhos Deliberativo e Fiscal, adverte sobre
gastos e dívidas contraídas pela gestão em curso sem
a anuência dos órgãos, além de listar possíveis consequências
caso o aviso seja ignorado.
Entre junho e julho, o rombo apontado no balancete
atinge R$ 5 milhões e, segundo estimativa do COF,
o Clube pode fechar 2006 com um déficit ainda maior:
R$ 12 milhões. A situação alega que a conta foi inflada,
pois desconsiderou valores que o Palmeiras tem a receber.
No entanto, receitas advindas das cotas de TV estão
comprometidas até junho de 2007. A Federação Paulista
antecipou ao Clube R$ 11,4 milhões referentes ao período.
Mustafá declara que não votará em ninguém ligado a
Della Monica, Palaia ou Cyrillo Jr., na próxima eleição.
O diretor de Futebol sugere CPI para averiguar a administração
anterior e aliados do ex-mandatário ameaçam iniciar
investigação sobre negociações feitas por Ilton José
da Costa. Enquanto os oposicionistas bradam ter deixado
dinheiro em caixa, os situacionistas justificam os
gastos em melhorias necessárias, no Social e no Futebol,
por eles realizadas.
"Roupa suja se lava
em casa, mas, em alguns casos, está tão encardida
que precisamos mandar para a lavanderia."
De PALAIA, diretor
de Futebol sobre a troca pública de farpas
XXVII
– O Intracampo
Setembro de 2006; reflexo nos gramados. O aproveitamento
de 80% após a Copa, a ascensão da lanterna à 11ª colocação
e a invencibilidade garantida por 11 jogos não foram
suficientes para que Tite conquistasse o respeito
de Salvador Hugo Palaia. O treinador, que reclamara
dos sequentes erros de arbitragem nas últimas rodadas,
pediu demissão após ouvir “cala-boca” público do diretor.
Foram três as partidas marcadas por possíveis falhas
dos juízes, desconsideradas pelo cartola: contra o
Santos, Leonardo Gaciba ignorou pênalti claro sofrida
por Daniel. Já Giulliano Bozzano (Cruzeiro 1x0) e
Alício Pena Júnior (Santa Cruz 3x2) apitaram penalidades
questionáveis contra o Palmeiras. A reação do homem
forte do Futebol, apesar de duramente criticada por
Della Monica, não foi surpresa para a maioria dos
diretores e conselheiros.
Parte dos aliados diz que a queda do gaúcho estava
desenhada, à espera de maus resultados, e que Palaia
criou atrito visando o pedido de demissão. Inconformado
com a demissão de Leão, o diretor implicava com o
sucessor constantemente e insistia em elogiar o técnico
do Corinthians. Declarara, por exemplo, que o amigo
estava “um degrau acima” de Tite. Marcelo Vilar assume
o time na véspera do clássico com o São Paulo, mas
jogadores e comissão técnica creditam a vitória ao
ex-treinador.
XXVIII – O Meio-Campo
Setembro de 2006; entre campos e alamedas. Diretor
e gerente sofrem pressão interna e externa, mas continuam
nos cargos. O afastamento de Salvador Hugo Palaia
e Ilton José da Costa, além de consenso entre oposição
e maioria da situação, é imperativo também para a
torcida. Constrito, o presidente ainda os mantém para
garantir a reeleição. Della Monica teme que, com a
‘demissão’, perderia votos de conselheiros próximos
ao cartola.
Duas organizadas alviverdes manifestam-se contrárias
à permanência dos dirigentes à frente do Futebol.
Enquanto uma publica ‘dossiê’ apontando falhas e contrariedades
da gestão, a outra tem protestado de forma veemente
em diversas ocasiões. Torcedores comuns pedem a saída
de ambos em sites e fóruns de discussão. No Clube,
aliados e oposicionistas questionam contratações,
contestam gastos e reclamam acesso aos ‘bastidores’
da pasta.
O atacante Neto Baiano (Atlético-PR), 24, que realizara
um período de testes no início do ano, mas fora reprovado
por Leão, é inscrito no Brasileiro no último dia de
prazo. O meia Tiago Treichel, 22, revelado no Pelotas-RS,
chega do Litex (BUG) indicado por José Cyrillo Jr.
A contratação chegou a ser repensada, mas a multa
de R$ 19,9 milhões, prevista em caso de desistência
no pré-contrato assinado pelo vice, impediu o descarte.
Pela liberação, o time búlgaro teria recebido US$
300 mil.
"O Palaia não tem
os 30 votos que diz ter e, se não sair, fará o Della
Monica perder os eleitores que levou 40 anos para
ter."
De FÁBIO RAIOLA, conselheiro
favorável à demissão do diretor
XXIX – O Ambiente
Outubro de 2006; saldo negativo. Sob o comando de
Vilar, em seis partidas, o time soma sete dos 18 pontos
em disputa. No clássico que fecha mês, o treinador
perde a posição para o Corinthians de Leão. Com a
vitória do alvinegro, que assumiu o 14° lugar, o Palmeiras
caiu para 15ª colocação e ficou a quatro pontos da
Ponte Preta, cabeça da zona de descenso. O jogo envolveu,
além da luta para afastar os clubes do risco de rebaixamento,
uma disputa particular.
Os técnicos haviam mantido diálogo áspero, via imprensa,
há cerca de seis meses. À época, Vilar também funcionou
como técnico-tampão e fez críticas à preparação física,
chefiada pelo sobrinho do antecessor. O interino defendeu
ainda a presença de um psicólogo, dispensado por Leão,
e a volta do fisiologista Ivan Piçarro, remanejado
para o B a pedido do ex. Assim que foi contratado
pelo rival, veio a resposta: "Pato novo precisa nadar
em lagoa rasa. Se nadar em lagoa funda, morre afogado
e depois liga para pedir desculpas".
Obrigada a lidar com minicrises diárias, a cúpula
recorre à escolta e à censura. Os protestos da torcida
são driblados por seguranças que acompanham elenco,
comissão técnica e diretoria. Declarações potencialmente
polêmicas estão proibidas. Jogadores não podem falar
sobre atraso salarial ou política interna e Palaia,
apesar de mantido no cargo, é aconselhado a sair de
cena para evitar confusão.
XXX – A Autoentrevista
Outubro de 2006; silêncio? Há um mês distante das
câmeras, Palaia reaparece duas vezes em sete dias.
Na primeira, após o presidente ter recebido carta
(do conselheiro e vice da FPF, Mauro Marques) repleta
de críticas ao Futebol, prestou "esclarecimentos".
Deu nova versão ao cala-boca _"estava numa roda de
conselheiros e acho que um microfone captou"; confirmou
os empréstimos e fez campanha _"quando o time caiu,
Mustafá foi feliz ao dizer que cabia a ele trazê-lo
de volta. Agora é igual. Se o Clube está com dívidas,
deixa o Dr. Della Monica ficar mais um mandato e pagar".
Na segunda, inaugurou uma forma de captar informação.
Assim que se posicionou diante do microfone, roteiro
em mãos, ele passou a perguntar e a responder. Antes,
explicou: "Tenho aqui comigo algumas perguntas que
sei que vocês fariam. Então já as selecionei e tenho
as respostas". Em seguida, deu início à autoentrevista.
– "Ele [Marcelo Vilar] será mantido? Ele fica". –
"O Palmeiras será rebaixado? Não. Tenho confiança
no nosso departamento de futebol".
– "O rebaixamento assusta? Assusta sim, como assusta
a todos os times." – "Há o que fazer? Nesta altura
do campeonato não tem o que fazer. Não dá para contratar,
então temos que pensar nos jogos". Ao todo, foram
11 questões. Nenhuma ficou sem resposta. Palaia não
se furtou a responder nem sobre a nota que daria ao
time. Manteve o 5 de Émerson Leão, porém ressalvou
que se tratava de escala do "1 ao 6".
"O que falta? Falta
ganhar."
De PALAIA, em resposta
a uma das autoperguntas
XXXI
– O Financeiro
Novembro de 2006; em baixa. Enquanto os jogadores
lutam para manter o Palmeiras na Série A, os diretores
lutam para sair do vermelho: avolumam-se empréstimos
e comprometem-se rendimentos futuros para saldar despesas.
Após recorrer a bancos e financeiras, além de antecipar
valores referentes às cotas de TV do Paulista e do
Brasileiro-07, conselheiros estudam vender imóveis,
propriedades do Clube, a fim de cobrir o rombo financeiro
da gestão atual.
Mais de 40% da receita prevista para o ano que vem...
Já foi. O Palmeiras, que antecipou cerca de R$ 18
milhões junto à FPF, ao Clube dos 13 e à Adidas, será
obrigado a rever gastos em 2007. Os cortes devem reduzir
o valor para novas contratações e a folha salarial,
duplicada na administração Della Monica. Sem dinheiro
em caixa, caberá ao próximo mandatário tentar renegociar
ou reaproveitar jogadores emprestados.
Washington, Osmar, Muñoz e Alex Afonso estão entre
os nomes que jogaram por outros times na temporada.
Alguns, inclusive, com parte dos salários bancada
pelo Clube. Claudecir, que treina separadamente desde
que voltou no meio do ano, é outro exemplo. A dispensa
de atletas com altos salários (entre R$100 e 120 mil
mensais) e baixo rendimento, ou não aproveitados,
também será opção de economia. São os perfis do meia
Juninho e do goleiro Sérgio.
XXXII – A Insurreição
Novembro de 2006; ‘golpe de Estado’. Em protesto pacífico
e sarcástico, a maior organizada do Palmeiras toma
o poder do Clube. O ato simbólico contou com a presença
de 30 torcedores, a maioria associada, que ocuparam
a antessala da presidência, na sede social. Durante
o ‘motim’, por cerca de duas horas, Della Monica e
Palaia foram destituídos e Ilton José da Costa demitido
por justa causa.
Na ausência dos afastados, sob as alegações de "negociações
que geraram prejuízos, contratações duvidosas, falta
de planejamento e desconhecimento total do cargo",
os ‘insurgentes’ conversaram com o diretor administrativo
Roberto Frizzo. Entre as reivindicações, além do afastamento
imediato do gerente e do diretor de Futebol, exigem
um treinador de ponta, "não um Vilar qualquer",
e a renovação no quadro de conselheiros.
A insatisfação externa não é o único problema a ser
resolvido. A cúpula enfrenta a queda-de-braço entre
dois aliados. Palaia e José Cyrillo Jr. estiveram
em lados opostos na demissão de Leão, na contratação
e demissão de Tite e na ‘efetivação’ de Vilar. Mas
foi o veto do diretor a indicações do vice-presidente
que azedou de vez a relação. Palaia ameaçou denúncias
contra Cyrillo, alegando que se opôs às negociações
sugeridas (a exemplo do atacante colombiano Martin
Edwin, 25) porque estariam superfaturadas. O vice
negou qualquer irregularidade.
"As portas sempre
estavam abertas para a torcida. Mas vou deixá-las
um pouco fechadas, após eles entrarem quando eu não
estava lá."
AFFONSO DELLA MONICA,
sobre a ‘insurreição’ da Organizada
XXXIII – A Ponte
Novembro de 2006; ufa! O Palmeiras não cai. Porém,
ao contrário do que garantira Palaia, quando perguntado
por Palaia, sobre a manutenção do interino, Vilar
caiu. O técnico, que não resistiu à quarta derrota
em sete partidas, entregou o time a Jair Picerni,
a seis rodadas finais do Brasileiro. No entanto, o
comandante do Palmeiras em 2003, um dos responsáveis
pelo acesso, não foi o único responsável por evitar
o rebaixamento.
A permanência na primeira divisão envolve outros três
treinadores: PC Gusmão, Wanderley Paiva e Geninho.
Na reestréia de Picerni, Paraná 4x2, o Palmeiras não
voltou à zona da degola graças às derrotas de Fluminense
e Ponte Preta, respectivamente 16° e 17° colocados.
Cenário que voltou a se repetir na 36ª rodada. Derrotado
pelo Juventude, o Clube só não foi ultrapassado porque
ambos adversários perderam.
Antes da penúltima partida, Picerni concentra o time,
abalado emocionalmente, em Extrema (MG), para "trabalhar
a cabeça dos jogadores". Seriam necessários apenas
dois pontos, dos seis que restam, para evitar o descenso
sem depender dos outros. Palmeiras 1x4 Internacional,
o jogo que apresenta Pato ao mundo do futebol e que
eterniza centenas de palestrinos ostentando nariz
de palhaço, profetizava o pior... Mas o Goiás de Geninho
venceu o time de Wanderlei Paiva e selou a queda da
Ponte.
XXXIV
– A Troca
Dezembro de 2006; por um triz. O Palmeiras foi ao
Rio cumprir tabela, mas o empate por 1x1 Fluminense
serviu de prova derradeira. Incapaz de conquistar
menos da metade dos pontos restantes, estimativa que
lhe permitia escapar da queda por si, o clube permanece
na primeira divisão sustentado pelos erros alheios.
Em 16° lugar, o Alviverde fecha o pior Brasileiro
da década depois de 2002, ano sem ponte de misericórdia.
Fora de campo, o biênio termina conturbado. O que
era situação transformou-se em oposição e o inverso
também é verdadeiro. O Muda Palmeiras, grupo opositor
a Mustafá Contursi, alia-se a Della Monica para apoiar
a reeleição e assume o Futebol na figura de um dos
líderes, Gilberto Cipullo. A torcida e a maioria dos
situacionistas, inclusa parte da cúpula, exigiam a
queda de Palaia há meses, tornando a permanência do
ex-diretor insustentável.
O técnico recém-contratado é dispensado e o jovem
treinador Caio Jr., que na temporada levou o modesto
Paraná à disputa da Libertadores-07, apresenta-se
no Palestra Itália. Ele chega com salário inferior
(R$ 60 mil mensais) ao de Jair Picerni (R$ 100 mil).
O período pré-eleitoral atrasa o planejamento e apenas
duas negociações são concretizadas. O zagueiro Edmilson,
29, e o volante Pierre, 24, ex-paranistas indicados
por Caio Jr., são anunciados.
"Os verdadeiros
traidores são o Cyrillo e o Della Monica, que já conspiravam
contra mim em 2004, e endividaram o clube."
De MUSTAFÁ CONTURSI,
agora oposição, sobre os ex-aliados
XXXV – O Lado B
Dezembro de 2006; refugo. O oitavo técnico da gestão
Della Monica não está seguro no cargo, mas já faz
idéia dos problemas que o esperam caso seja mantido.
Além do elenco inchado (44 jogadores se reapresentarão
em Janeiro), mas carente em algumas posições, Caio
Jr., terá que resolver o que fará com os ‘encostados’.
Dos 103 inscritos no BID, cerca de um terço já estourou
o limite de idade júnior, mas segue no Clube sem aproveitamento
ou dispensa.
O número varia, mas hoje são 33 profissionais que
nem pertencem às categorias inferiores, nem foram
alçados ao Principal. A maioria atua pelo Palmeiras
B em torneios menores e completou 20, 21 anos, recentemente.
No entanto, há aqueles com idade entre 22 e 25 anos,
a exemplo do zagueiro Frede, 23, ou de Wendel, 24,
que teve a primeira chance quando Vilar substituiu
Leão, em abril deste ano, e ‘alçou’ o volante.
Além dos ascendentes das bases, o B conta com alguns
renegados, contratados para a equipe A, não aproveitados,
e esquecidos por técnicos e dirigentes. O meia Claudecir,
31, é ícone deste descaso. Em 2001, assinou por cinco
anos; em 2005, antes de ser emprestado ao São Caetano,
teve o contrato renovado por mais dois e há dez meses
voltou lesionado para uma cirurgia. Recuperado há
45 dias, restringe-se às corridas em volta do campo.
Para tanto, recebe R$ 30 mil mensais.
XXXVI – O Balanço 2006
Entre 44 jogadores, sobram zagueiros e volantes, mas
o setor de ataque é falho. Trazidos para o ano, 16:
os beques Dininho (Sanfrecce Hiroshima), Douglas (São
Caetano) e Valdomiro (Santo André); os laterais Amaral
(Fortaleza), Chiquinho (Inter), Marcio Careca (Brasiliense)
e Paulo Baier (Goiás); os meias Marcelo Costa (Grêmio),
Ricardinho (Inter), Rosembrick (Santa Cruz), Tiago
Treichel [Litex (BUG)] e Valdivia [Colo-Colo (CHI)]
e os atacantes Edmundo (Figueirense), Enílton (Juventude),
Neto Baiano (Atlético-PR) e Roger (São Paulo).
Alguns atletas do B, acima dos 20, tiveram chances
no Principal. Os volantes Francis e Wendel, 24, até
alcançaram a titularidade, mas outros, como o meia
Alex Maranhão, 21, foram alçados e nem chegaram a
atuar. O caso Ilsinho deflagrou problemas nas categorias
inferiores. Cartolas e técnicos não dariam atenção
devida à subdivisão. O goleiro Deola, promessa da
Base, ressalvou sobre o episódio do ala: "tem que
ver como ele foi tratado pelo clube".
O custo-benefício. Na variação de valores apresentados
por situação e oposição, o time que lutou para não
cair acumulou déficit entre R$ 17 e 22 milhões. Além
dos empréstimos feitos, mais de 40% da receita prevista
para 2007 foi antecipada para honrar compromissos
financeiros. A folha salarial do Futebol, dobrada
pela gestão atual, foi quitada com atraso por toda
a temporada. No final do ano, até o FGTS dos jogadores
foi depositado com atraso de dois meses.
Oito técnicos em dois anos custaram à SEP mais de
um milhão de reais em luvas, rescisões e/ou direitos
trabalhistas. Com Leão, foram gastos cerca de R$ 700
mil. A cada troca, menor o aproveitamento. Tite saiu
com 48%, Picerni com 39%. Entre os dois efetivados,
a interinidade de Vilar rendeu 25%. Na avaliação posterior
do presidente, ficou barato. Della Monica considera
que a demissão do gaúcho quase lhe custou a primeira
divisão.
"Foi a minha primeira
rusga com o Della Monica, ficamos uns 15 dias sem
falar a mesma língua. Não queria que eu mandasse embora.
Mandei."
De PALAIA, já afastado,
sobre a demissão de Tite
Epílogo
Ao futuro. O palestrino ainda não sabe, mas este se
consagrará o segundo pior ano da década. O Palmeiras
2006, que teve na Ponte a tábua de salvação, viu os
adversários comemorarem mais de cem gols sofridos.
Indefesos, zaga e torcedor foram insultados.
Estampada a manchete, “loucademia” acima do dirigente-caricatura,
acumularam-se páginas e páginas de crise, enunciado
comum às mais diversas narrativas. Rachas, atrasos
salariais, dívidas, protestos, má-administração. Também
mais de cem foram os enxovalhos. Mais de mil...
Palaiadas titânicas. Em vez de se calar, ele pergunta
e ele responde. No espetáculo circense, à Nação sobrou
nariz de palhaço. Negociações questionáveis, lado
B exposto. O jogador que corre em círculos, no vão
do descaso, atração bizarra exibida. Vergonha.